Rádio Freamunde

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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Partida para a zona dos Dembos (Balacende):

Quatro de Maio: De manhã chegaram ao Grafanil umas camionetas de mercadorias para nos transportar para Balacende. Só foi metade da companhia, a outra metade, foi passados oito dias assim como os soldados Angolanos que iam fazer parte da 3341. Até ao Caxito fomos bem, estava incluído no percurso que se podia transitar sem segurança. A partir do Sassa começamos a ter receio e chegamos a Quicabo onde iam ficar as companhias CCS e 3340, a 3341 seguia para Balacende e a 3342 para a fazenda Maria Fernanda, com um pelotão na fazenda Margarido.

                                Chegada de uma coluna militar a Quicabo

Quartel de Quicabo
Quartel de Balacende 
                               Fazenda - Maria Fernanda
 Fazenda - Margarido
Estava um pelotão de soldados que nós íamos render à nossa espera. De Quicabo a Balacende tínhamos que passar pelas famosas sete curvas quando ali passamos o receio era enorme. A companhia que fomos render tinha lá outro pelotão a fazer segurança. Queriam nos fazer uma recepção tranquila o que acabou por acontecer.
No batalhão que rendemos encontrei o Alcino, meu colega de futebol no Sport Clube de Freamunde. Foram para a fazenda Tentativa acabar a comissão de serviço.
Fomos alojados em camaratas. Estavam bem conservadas. Durante oito dias andamos a receber instruções, fizemos alguns reconhecimentos à floresta do Quifuso e outras circundantes. Sentíamos como pintos protegidos pela galinha mas..., a galinha estava prestes a partir. A partir daí ficávamos à mercê das nossas capacidades e sorte que nessas situações também se precisa ter.
Na chegada dos nossos colegas também os fomos esperar às sete curvas. As sete curvas era uma picada com morros altos, se o inimigo quisesse, ou lembrasse, armava-nos uma emboscada, mesmo à pedrada davam cabo de nós. Para lhes fazer frente só se fosse com tiros de bazuca ou lançamento de granadas, não tínhamos outro armamento de tiro curvo.
Na despedida da companhia que rendemos fez-se um jogo de futebol. O campo era pequeno e a minha companhia perdeu. A maioria dos soldados atiradores era conhecida e formaram a equipa. Vi o jogo e notei logo que era uma equipa fraquinha.
Um dia andava um grupo de soldados a jogar a bola e o guarda-redes foi chamado para algo que não posso precisar. Ofereci-me para ir para a baliza. Fui olhado com desconfiança, passados uns minutos renderam-se à evidência.
À direita a equipa da minha Companhia (3341)
Continuamos a fazer jogos de futebol entre pelotões e como o campo tinha muito pedregulho deixei de ser guarda-redes e passei a jogar a médio. Tinha habilidade. Passei logo a ser a vedeta da equipa – terra de cegos, quem tem um olho é rei. Fez-se um campeonato entre as companhias do batalhão, os jogos eram realizados em Quicabo, a minha companhia foi campeã.
                                                                    Rádio Telefonista
A minha especialidade era rádio telefonista. Eram cinco rádios telefonistas, três rádios telegrafista e dois criptos. Foi-nos dada uma escala de serviço pelo Furriel de transmissões. Os rádios telefonistas foram incorporados nos pelotões de atiradores - eram quatro - faziam o serviço destinado fora do quartel: patrulhamentos, operações, protecção à J.A.E.A., «Junta Autónoma Estradas de Angola» estavam a asfaltar a futura estrada de Quicabo a Zala, passando pela Beira Baixa e Nambuangongo.
Os rádios telefonistas andavam mais expostos ao perigo que os rádios telegrafistas, esses só faziam serviço no posto de rádio – eram chamados aramistas. Os postos de transmissões em Angola comunicavam entre si em fonia e não em grafia.
Não achava certo e um dia falei com o Furriel de transmissões sobre este problema dizendo que os rádios telefonistas também tinham direito a fazer serviço no posto de rádio porque se transmitia em fonia. Nunca resolveu a questão.
Um dia numa reunião com o comandante de companhia, capitão Lofgren Rodrigues, coloquei-lhe o problema. Foi logo ali resolvido. Um mês, quatro faziam serviço no posto de rádio, os outros quatro, faziam operações, reconhecimentos, patrulhas, etc., etc., no mês seguinte invertia-se a situação.
Havia animosidade entre mim e o furriel de transmissões. Em Santa Margarida, quando se apresentou a nós, fez um discurso, dizia que se sentia responsável e se nos acontecesse algo tinha que dar satisfações aos nossos pais. Sorri. Ele apercebendo-se do meu sorriso e como não sabia o meu nome, ainda não estava familiarizado connosco, disse, ao de quico branco - o meu quico era branco - não sei o motivo porque se ri. Disse-lhe, no que tocava a mim, os meus pais não lhe pediam responsabilidades, quando muito era ao Ministério do Exército ou ao Governo. Não gostou que o contrariasse. A partir daí tive sempre a sua antipatia.

13 comentários:

  1. ola PACHECO
    Sou o Jose Duro
    desejo-te muita saude para ti e toda a familia
    e um bom natal

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  2. José Duro:
    Não estou a ver quem és. De certeza que pertencias à minha companhia 3341. Obrigado e desejo tudo de bom para ti.
    Um santo Natal assim como um bom Ano Novo.
    Volta sempre. Cumprimentos.

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  3. Ola Pacheco, obrigado por me fazeres recordar o tempos em angola. Pois so o sancho que tu conheces bem por temos partilhado o posto radio juntos. Se quizeres contactar o meu mail e
    sancho1949@hotmail.de
    Muitos comprimentos

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  4. Sancho:
    Só hoje é que dei nota do teu comentário pelo que peço desculpa. Dia 21 de Maio a companhia vai confraternizar em Vila Nova de Gaia, pelo que pergunto se vais estar presente? É com imensa alegria que gostava de te rever. Acaso vás e se fores ainda portador do livro do batalhão com os nossos nomes e direcção, julgo que tens, és mais organizado, gostava que o levasses para eu tirar as nossas direcções para o meu blogue. Sabes, gosto de recordar aqueles tempos e que fiquem para as gerações futuras para saberem que não fomos uma geração à rasca, mas sim, uma desenrascada. Aproveito por enviar muitos cumprimentos a ti e à tua família em especial à tua esposa.
    Até um dia.

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  5. entao Pacheco,sou o Sancho pois ainda nao disseste nada do vosso encontro em Gaia,pois estou convencido que tudo correu bem nao me foi possivel estar presente,talvez para o ano.com respeito ao livro do Batalhao esta em Portugal,mas se Deus quizer o dia 28de julho devo ir de ferias (pelo menos a viage esta paga)depois vou tentar entrar em contacto contigo,por que eu soponho que tenho la umas coisas que te posso dar para meteres aquiainda tnho fotografias com o Fernandes que era o Cacador da companhia como ainda deves estar recordado pois foi pena que so agora e que dei por vos ,mas mais vale tarde que nunca,pois eu nao percebo quese nada disto mas vou procurando e encontreite; pois daqui para dija vou meter aqui o que tenho,Okey?xau ate qualquer dia

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  6. Sancho:
    Tenho andado atarefado e só hoje é que vi o teu comentário mas, como diz o ditado, mais vale tarde do que nunca. Quanto ao encontro com a companhia em Gaia não recebi convite, quem me informa é o Carneiro. Não entrou em contacto comigo e por esse motivo não fui. Tentei entrar em contacto via telemóvel com o Setúbal mas ele deve ter mudado de telemóvel e por esse motivo não o pude contactar e assim não fui. Manda sempre.
    Um abraço para ti e para a tua família.

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  7. Reis Lopes
    Fui Alf.Mil,Op.Esp. da C.Caç.2600, Companhia que renderam em Balacende, julgo que em finais de Abril de 1971. foi o meu GC que vos fez segurança nas 7 Curvas e foi o meu GcQue vos acompanhou nos 8 dias de sobreposição ao Quifusse e á Fazenda Mª Fernanda.Nós rodamos para a Faz. Tentativa(antes do Caxito)Soube que no ultimo dia em Quicabo tiveram uma forte emboscada nas7 curvas com baixas e um camarada feito prisioneiro
    cumprimentos

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  8. Reis Lopes:
    Antes de tudo boa noite. Só hoje é que vi o seu comentário. No meu blogue eles são poucos, por isso, raramente vou à caixa de comentários. A vossa rendição deu-se a quatro e doze de Maio de setenta e um. Sei que foram para a Tentativa pois fazia parte do vosso batalhão (CCS) o Alcino meu colega de futebol e fui lá várias vezes visitá-lo. Quando se deu a emboscada – catorze de Março de setenta e três – nas sete curvas as mesmas já eram em alcatrão e não tinham a mesma configuração e o mesmo número. Quero também agradecer-lhe a maneira como nos receberam e trataram e sabe bem conferenciar com quem como nós deixou algo em Balacende: esforço e suor.

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  9. zona muito quente, mesmo depois do 25 de Abril, durante muito tempo assim continuou, sinceramente não sei como o percurso podia ter mudado, mas era realmente muito mau, tive uma emboscada logo à entrada e tive um morto e quatro feridos.
    Para conseguirmos passar, um pelotão teve que palmilhar a meia encosta, corremos com o MPLA, mas eles esperaram-nos à entrada de Balacende e desta vez quem teve que fugir foram eles.

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  10. Eu fui uma das vitimas do 14 de Março nas sete curvas. Era condutor, fui ferido no braço direito. Não morri, porque não era o meu dia. Fui da Copmª 3340.e queria deixar um apelo. A tua companhia 3341, deveria confraternizar com as restantes. Temos um almoço do Batalhão todos os anos, alguns camaradas teus aparecem, porque não mobilizar todos os camaradas para o encontro do Batalhão. Faz uma forcinha. Um abraço do Lobo.

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  11. Lobo:
    Como estás! Recordo-me bem de ti. De ter-mos falado do restaurante da Travagem em Ermesinde, segundo parece tinhas lá um irmão a trabalhar. E Chaves continua bem?
    Sobre o não aparecer ninguém da minha Companhia nos Almoços de Confraternização deve-se ao facto de um elemento da C. Caç. 3342 em todos os almoços a que ia pegava no microfone para discursar e fazia duras críticas à minha Companhia por ir poucos elementos. Mal sabe ou sabia que fui um dos primeiros a aderir a este tipo de confraternização, salvo erro em 1976, no restaurante Galope, perto do Quartel de Infantaria nº. 6.
    Quem deu início a este evento foi o ex-Furriel Oliveira. Por isso, é esse o motivo por que começamos a reunir os elementos da 3341 e confraternizar uns com os outros. De qualquer maneira obrigado pelo convite. Mas não estávamos para constantemente sermos criticados. Esses almoços tinham cariz: unir e não dividir.
    Não havia ali ninguém que o chamasse à atenção e como éramos uns dois ou três também evitamos esse confronto. Sabes que no fim dos almoços não são alguns a falar mas sim o que ingerem. De qualquer maneira há muito que pus o problema ao Garcia Ferreira e ao Oliveira.
    Um abraço.

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  12. Também eu me recordo de ti. Tive realmente um irmão a trabalhar na Travagem. Chaves, julgo que está bem. Eu sou de Vidago (vaidoso), mas desde que regressamos do Ultramar, e motivado pelo tiro que levei no braço fiquei por Lisboa, portanto há 40 Anos. No entanto, como bom trasmontano, vou muitas vezes a Vidago, onde tenho casa. Quanto ao almoço anual, propunha que algumas pessoas mais esclarecidas, tu, o Soares e mais alguns dessem a volta ao assunto, mesmo fazendo o almoço da Companhia, comparecerem no almoço do Batalhão. Terei muito prazer em ver-te no próximo. Aquele abraço.

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  13. Também fui cabo de transmissões em Quicabo mas muito mais cedo que vocês, pertenci ao Batalhão de Cavalaria 1883 e estive lá em 1966/67,nesse tempo tanto os radiotelefonistas como os telegrafistas faziam todos apenas serviço no posto de rádio e pertenciam todos à CCS, tinhamos uma companhia operacional em Balacende C.Cav 1536 e outra na Maria Fernanda C.Cav 1535 e tínhamos a outra companhia operacional em Quicabo C.Cav 1537 junto connosco a CCS, serviços em Quicabo só a CCS os fazia, a C.Cav 1537 estava encarregue às operações, mesmo as idas ao Caxito buscar correio e mantimentos era feito pelo pel rec da CCS, no tempo que lá estive era uma zona difícil, o batalhão teve alguns mortos em operações, depois fomos para o Leste e ainda foi pior para as nossas companhias pois tiveram lá mais mortos do que em Quicabo,para a CCS foi sempre mau o isolamento, tivemos realmente muito mais sorte que as outras companhias pois que não saíamos e por isso nunca estivemos expostos aos perigos que os outros correram, em Quicabo o pior que tivemos foi mesmo o isolamento que foi terrível.

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