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domingo, 10 de junho de 2012

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas:

Como os tempos passam. Parece que foi ontem que eu e os meus colegas de escola, neste dia, íamos no desfile desde o local da nossa escola até á cantina escolar. Cada um levava uma oferenda, ao critério de cada família: massa, arroz, batatas, uma garrafa de azeite e outros artigos. Estas dádivas contribuíam para o fornecimento diário, do pequeno-almoço e almoço, dos seus alunos, principalmente os mais desfavorecidos, que todos os dias se deslocavam à cantina escolar, na praça do mercado, no lugar da Feira.
Depois da entrega das oferendas era oferecido um pequeno lanche, findo este, em fila indiana seguíamos para a Associação dos Socorros Mútuos, onde regra geral, havia um programa de variedades interpretado pelos alunos. Era bonito e era a forma de mostrar as actividades extra-curriculares. 


No ano de mil novecentos e sessenta um, tinha acabado o ensino primário, comecei a frequentar outro: o profissional. 
Entrei para a Fábrica Grande, pela mão de Abílio Barros, para aprender a profissão de estofador de móveis. Nesse ano, no dia dez de Junho, foi levado à cena uma peça de teatro que se chamava Maria Migalha. 
Fui ver e delirei com os papéis desempenhados por Manuel Marques Nunes, como Rapa Tachos e Ana Maria P. Pacheco, Dama Lambisqueira, que já não se encontram entre nós. Ambos a partir daí ficaram com esse cognome.  Foi um sucesso! Tanto a peça como a interpretação dos pequenos actores.
Ainda me lembro num ano em tivemos de ir a Paços de Ferreira, julgo que todos os alunos do concelho, a pé, tanto para lá como para cá, lembro-me que a concentração foi na escola que existia onde hoje está sediado o edifício do Paços do Concelho. 
Ficamos tristes com esta deslocação. Nessa altura já existia a rivalidade entre Freamunde e Paços de Ferreira e esta ida foi forçada para a maioria de nós. Como éramos crianças lá tivemos de a suportar.
À vinda para cá para atenuar o cansaço cantávamos as canções que os professores nos ensinavam que eram temas da Mocidade Portuguesa: Lá vamos, cantando e rindo / Levados, levados, sim / Pela voz de som tremendo / Das tubas, clamor sem fim. Lá vamos, que o sonho é lindo! / Torres e torres erguendo / Rasgões, clareiras, abrindo! Alva da Luz imortal / Roxas névoas despedaça / Doira o céu de Portugal! Querer! Querer! E lá vamos! / Tronco em flor, estende os ramos / À Mocidade que passa. Etc., etc. e tal. 
"O regime de Salazar deu um outro significado ao Dia de Camões. O dez de Junho foi adoptado e adaptado pelo regime instaurado em 1933, e passa a ser conhecido como o Dia da Raça e a servir de propaganda ao Estado Novo." 
Ainda há entre nós quem chame ao dez de Junho dia da Raça. Mas, a partir do vinte de Abril, passou novamente a ser dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Em lugar de cantar o hino da mocidade portuguesa passou-se a recordar Camões.
“Por mares nunca de antes navegados / Passaram ainda além da Taprobana / Em perigos e guerras esforçados, / Mais do que prometia a força humana, / E entre gente remota edificaram / Novo reino, que tanto sublimaram.”
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades / muda-se o Ser, muda-se a confiança / todo o mundo é composto de mudança, / tomando sempre novas qualidades.”

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