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sábado, 24 de dezembro de 2016

Prenda de Natal:

Estamos com o Natal à porta. Embora este ano as finanças dos portugueses estejam melhores que nos últimos quatro anos há quem se restrinja nos gastos supérfluos. É o meu caso. Embora despenda um pouco mais que em relação aos últimos anos. As prendas que ofereço são do interesse do quotidiano.
Um casaco de malha para um neto, um kispo para o outro, um perfume para a esposa e outro para a filha, uns ténis para o filho e para mim a graça deles todos. Faz-me lembrar o Natal da minha meninice.

Esses tempos difíceis. Em que umas peúgas, nesse tempo era mais usual chamar-lhe meias. Também não percebo porque lhes chamavam meias se eram inteiras. Algumas vinham até meio das coxas. Isto claro nas senhoras. Se fosse nos homens eram apelidados de maricas.
Fosse como fosse eram tempos que hoje só interessa lembrar para os mais novos terem uma noção como era a vida na década de cinquenta ou sessenta. Numa coisa era diferente: a família. Que reunia e estava junta até altas horas da madrugada.
À luz do candeeiro jogava-se ao Rapa a pinhões. Depois os nossos pais lá nos mandavam para a cama para pôr no sapato as parcas prendas a que já estávamos habituados.
Era tal a miséria que nesse tempo era o Menino Jesus que vinha pôr os presentes. Depois não usava o mesmo critério. Fazia distinções. Havia quem dizia que era pelo facto de não nos portar bem.
Depois de ver outras crianças mais malcomportadas que eu e com prendas melhores que me levava a pensar em praticar asneiras como eles.
Ia à missa e à catequese e por vezes ao terço e os outros não queriam saber nada disso. Alguns até eram filhos de jeovás.
Na escola fazia por ser dos melhores alunos. Na Aritmética – nesse tempo ainda a Matemática era desconhecida – dava cartas. A História sabia de fio a pavio todas as dinastias. Desde D. Henrique a D. Manuel II. Mas tudo isto não contava para o Menino Jesus.
Seria ele a querer vingar-se ou a nos fazer ver que teve um nascimento pobre? Será por ter nascido numa gruta no meio de palha na presença de um burro e de uma vaca! Não creio que seja por isso.
De uma coisa tenho a certeza. Com a invenção do Pai Natal as prendas melhoraram. Seria pelo nível de vida dos portugueses ser melhor? De certeza que sim. Também o Natal passou a ser uma festa ao consumo.
Por uma coisa ou outra alegro-me de ver os meus netos todos contentes a desembrulhar as prendas. Já não se acreditam no Pai Natal. Não fazem as comparações que eu fazia. Sabem que as prendas são em consonância com a saúde da carteira dos seus pais e avós. Até nisto têm sorte. Os seus avós ao contrário dos meus têm possibilidade de lhes ofertar uma prenda a cada um.
Com dificuldades e pouca saúde lá lhes vamos dando. Oxalá que seja por muitos e bons anos.

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