Um sábio provérbio popular afiança que “diz-me com quem andas,
dir-te-ei quem és”.
Convenhamos que para Marcelo Rebelo de Sousa o que daí se ajuíza não é
particularmente confortável: depois de ver um dos seus melhores amigos, Ricardo
Salgado, metido nos apuros que sabemos, é a vez do seu dileto padre,
responsável pelas paróquias de Oeiras e de Cascais, ver-se procurado pela
Judiciária, depois de terem desaparecido valiosas peças de arte sacra. António
Teixeira, assim se chama o religioso em causa até tivera o privilégio de contar
com Marcelo a prefaciar-lhe o livro, que lançara meses atrás.
Perante o que da sua personalidade diariamente aquilatamos não espanta
que Marcelo não tenha arriscado enviar a revisão da lei de financiamento dos
partidos para o Tribunal Constitucional, pois sabia quão facilmente ali seria
validada. Assim, e utilizando um tipo de expediente que não fica bem a quem
deveria ter a irrepreensível ética de quem é chamado às suas altas funções,
limitou-se a vetar o diploma, reenviando-o para a Assembleia da República, e agindo em
conformidade com a onda de demagogia que os jornais e as televisões se
encarregaram de difundir nos últimos dias.
Porque sabe que os principais prejudicados com a escusa a essa
aprovação são o PCP (que continuará a ter dificuldades em contabilizar todos os
donativos auferidos por exemplo com a Festa do Avante) e o Partido Socialista
(que não possui os financiadores, com que PSD e CDS contam como paga do
trabalho para que estão mandatados pelo patronato e pela Igreja), Marcelo
torna-se cúmplice da tentativa de manter a capacidade financeira dos partidos à
esquerda limitada, ciente de ela não existir à direita.
A estratégia de Marcelo é óbvia: já que não consegue derrotar a maioria
parlamentar nas sondagens e no sucesso dos indicadores económicos, intervêm
onde lhe é possível: dificultando-lhes o mais possível o acesso a recursos para
executarem a sua atividade política.
Sabe, também, que um dos seus ódiozinhos de estimação - Mário Centeno -
está cada vez mais liberto da teia, que chegara a lançar-lhe, quando o chamara
a Belém e tivera o «prestável» Lobo Xavier a mostrar-lhe sms, que nunca
deveriam ter saído do alcance de quem os tinha recebido ou enviado. Nesse
sentido, para além de, como presidente do Eurogrupo, Centeno olhar para Marcelo
de cima para baixo, pode começar bem o ano com a acrescida almofada financeira
de 350 milhões de euros não utilizados como receitas extraordinárias no
exercício orçamental de 2017. Se as perspetivas para 2018 são boas, ainda
prometem revelar-se melhores. Como dizia o blogue O Jumento em dia recente: “É
bom que o aparelho digestivo do Presidente esteja a funcionar bem porque a
dieta que vai ter de suportar em 2018 não é das de mais fácil digestão.”
Do Blogue (Ventos Semeados)
Publicada por jorge rocha à(s) 18:30
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