…Pois que isso de “Don” e “Sir” é mais para Espanhóis e Ingleses!
Quero, antes de mais, contar-lhe uma coisa da qual, eu presumo, deve
ter ouvido falar: quando eu era pequenino e mesmo já jovem, lá da minha aldeia
ouvia as pessoas dizerem que os Comunistas comiam criancinhas, mas pior ainda,
logo ao pequeno almoço! Tem lembrança?
É que a verdade é que eu nunca ouvi ninguém, ou ligada ao regime da
altura ou da própria Igreja Católica, isso desmentirem. Mas eu também desde
pequeno sabia que tal não era verdade. Porquê? Porque o meu Pai, que era Guarda
Fiscal, foi para o Alentejo profundo em princípios dos anos cinquenta, e nós
ainda pequeninos com ele, e tal não verificou! O que constatou foi precisamente
o contrário: dificilmente comiam…e eram Comunistas!
Mas, muito mais tarde, vim e viemos a saber que afinal, pois…
Isto para lhe dizer, Senhor Manuel Clemente, que V.Exª, que parece que
escreve livros e mostra ser pessoa culta e dizem que Filósofo até, quando sai
do seu pequeno mundo, quando o seu pensamento extravasa para aquilo que não
sabe, só diz asneiras! Sim, asneiradas surreais mesmo!E não mostra ter sentido
da penitência…E eu também me lembro, quando era pequeno também, tinhamos que ir
confessar-nos por “pensamentos, por actos e omissões”.Lembra-se? Bem prega Frei
Tomás, também se dizia lá pela aldeia!
E porquê? Porque V.Exª, que parece que jurou votos de castidade, que
sabe V.Exª de sexo? Ficou-se pela leitura, não foi? Porque V.Exª, que parece
que jurou ser celibatário e abstencionista em relação a sexo, que sabe V.Exª de
casamento, de matrimónios, de casais, de filhos, de desavenças, de
incompatibilidades várias, de violências até, para acerca disso perorar e, pior
ainda, aconselhar e mesmo ditar lei? Que sabe você? Que experiência tem? É que
nem sequer a da “supernanni” que, tão jovem ainda, parece que queria ensinar
casais a educar filhos pequenos!
Quer dizer, segundo bem percebi: uma esposa casou pela Igreja, ponto
um. O marido tinha sido um grandessíssimo filho da mãe para ela e ela, não
aguentando mais tanta irresponsabilidade, tanto desamor e tanta violência,
mesmo física, pediu a separação, o divórcio, ponto dois. Aceite e consumado,
dando um tempo de reserva e sentindo-se ainda viva para a vida, partiu para um
novo matrimónio, ponto três. Pois até ele, o marido, arrependido que estava
até, achou a coisa mais que natural, mas a Igreja não! Porquê?
Porque o matrimónio é indissolúvel, diz a Igreja. Sendo, portanto, o
mesmo indissolúvel, em terminado fica a pessoa sujeita à infelicidade! Ou, na
sua tese enquanto “Don”, à abstinência! À anti- naturaliade. Faz isto algum
sentido?
Isto é ficção e é um exemplo apenas , mas um exemplo que,
toda a gente sabe, existe por aí às carradas. Abstinência enquanto os doutos
sabedores da misericórdia Divina, da vida do além e dos ensinamentos de Jesus
Cristo, um Cristo que até Maria Madalena perdoou e mandou em paz? Abstinência
quando até o Papa Francisco os manda ser mais contidos, caritativos e
compreensivos? Faz isto algum sentido?
Eu sei que o Cidadão Manuel Clemente, embora seja cidadão, não consegue
despir a farda do “Don”. É um problema seu, meu caro,. É um problema seu.
Como é um problema seu o de, enquanto os Leigos da sua Igreja, lutam
contra a pobreza, contra a exclusão e tudo fazem para ajudar essas pessoas para
quem a vida foi e é madrasta, se posicionar do lado dos poderosos e mandar
palpites, políticos até, contra quem deseja um mínimo de dignidade no seu
trabalho e anseia por melhores salários e particularmente o mínimo. A gente
ouve e lê, meu caro “Don”.
Todos nós os que temos como sentido da Liberdade o vivermos a vida que
entendermos desde que essa nossa Liberdade não colida com a de qualquer
semelhante, não aceitamos nem nunca conseguiremos entender esses vossos dogmas,
dogmas anti-naturais porque agarrados a conceitos quase medievais, que apenas
servem para restringir essa tal Liberdade, a Liberdade a que todos e qualquer
um têm direito. E à Felicidade!
O senhor Cidadão Manuel Clemente tem direito a toda sua reaccionarice,
tem todo o direito e faz parte da sua Liberdade. Mas quando a sua Liberdade
colide com a minha, com a nossa e de toda a gente, a de sermos Felizes ou
procurarmos a nossa Felicidade, desculpe e, mais, cumprirmos a missão que nos
foi destinada na passagem por este mundo, a de melhorarmos e continuarmos a
vida da espécie humana, o Senhor está a mais e não pode ser levado a sério!
Ao menos, caro “Don”, siga o pensamento do Papa! É o mínimo que lhe
rogamos…
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