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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O Quartel:

Havia três camaratas, fui alocado na do meio, onde ficaram a maior parte dos soldados especialistas. As camas eram em beliche, ficava na de cima. Por baixo ficava o soldado condutor auto-rodas, Rocha. Éramos amicíssimos e partilhávamos todos os nossos pertences.
Um dia assaltaram-lhe a caixa de guardar os haveres – era um utensílio em madeira pertencente ao exército, substituía o armário, colocávamo-la debaixo do beliche. Logo que soube, foram objectos de valor e consideração, assim como uma boa quantia em dinheiro. Fiquei atrapalhado, só eu e ele é que tínhamos acesso a ela, mas tinha a consciência tranquila. Notando a minha preocupação disse-me que em mim fazia toda a confiança. Mais tarde disse que quando foi chamado ao capitão para averiguações pôs-me fora de suspeitas.
Os roubos continuaram. Andava aborrecido com tal situação e estive para pedir para me mudarem de camarata. Não o fiz porque se acabassem os roubos era logo dado como o principal suspeito. Passado uns dias descobriu-se o autor do roubo. Foi preso e transferido para o Leste de Angola.
O tempo ia decorrendo e começava a haver um certo tédio. Eram sempre as mesmas caras. Já não víamos uma cara feminina há algum tempo. Um dia numa coluna militar que ia para a Beira Baixa, iam umas mulheres de cor e com uma certa idade, foram admiradas como umas verdadeiras misses.
Começamos a ir com regularidade a Quicabo e ao Caxito. Numa dessas idas a Quicabo encontrei o António (Varado) era criado de servir, de uma família rica, na minha terra. Um pouco feito à boa lei. Agora estava bastante reguila. A tropa a muita gente fez mal ao António só fez bem. Fazia parte de um pelotão de morteiros que prestava serviço em Quicabo. Juntamente com ele estava o Ângelo, de Ferreira, - uma freguesia que faz fronteira com a minha - éramos conhecidos, hoje há uma grande amizade. Somos como irmãos. Em Dezembro de mil novecentos e setenta e um embarcaram para o Continente. Foram os primeiros soldados a fazerem a viagem de avião.
Nas idas ao Caxito sabia bem entrar em contacto com a sociedade, comer umas moelas ou um churrasco de frango. Antes íamos estar com as prostitutas para ter relações sexuais e que saudades tínhamos.
Um dia quando me deslocava para uma cubata para arranjar uma prostituta, encontrei-me com um alferes da minha companhia, que me perguntou para onde ia, ao que lhe respondi. Para o sítio que o meu alferes vem. Dizendo ele. Se eu deixar. Disse-lhe, não diga que manda no meu pénis, ou na vagina de quem vou escolher. E assim me desloquei para lá sem qualquer obstrução.
Junto à lápide dos que tombaram

Num outro dia de manhã viemos ao Caxito. Eu e o 1º. cabo mecânico Damas, fomos arranjar uma prostituta, para cada um, depois deslocamo-nos para a fazenda da Tentativa para nos encontrar com uns colegas.
À tardinha quando chegamos, vimos os soldados nossos colegas numa formaura, o que era raro acontecer. À frente do pelotão um alferes e soldados da companhia que prestava serviço no Caxito, assim como algumas prostitutas nossas conhecidas.
Pedimos autorização para entrar na formatura e quando lá nos encontrávamos, uma prostituta, apontava aos soldados, dizendo, são estes. Como não estava a perceber nada do que se passava e quando chegou a mim e me apontou, disse-lhe sou eu o quê minha…, tive relações sexuais contigo e paguei. O alferes mandou-me calar ao que lhe respondi. Sabe meu alferes o que não compreendo, você a nós já nos conhece há muito tempo, não se acredita e acredita nesta gente. Com estas palavras o alferes mandou-nos dispersar e disse para o outro alferes. Retira-te mais os teus homens se não arrasamos o Caxito.
Vim a saber mais tarde que os soldados queriam ter relações sexuais, quando chegaram à cubata, estava lá um soldado que prestava serviço no Caxito, não as deixou, de imediato os meus colegas deram-lhe um arraial de porrada e destruíram a pouca mobília existente. O nosso capitão proibiu-nos durante dois mês de irmos ao Caxito.
Passado o castigo e quando lá fomos deparamos com outro problema. Se disséssemos que éramos de Balacende, negavam-se a ter relações sexuais connosco. Bem me custava negar a minha origem, mas tinha de ser, andava farto da irmã da esquerda.
Continua

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